Bem–estar financeiro pode ser conquistado com consumo consciente e mudança de hábitos
“A verdadeira riqueza na nossa existência não está no que se possui, mas em como a vida é aproveitada”.
Esse pensamento tem inspirado muitas pessoas a refletirem sobre uma nova postura diante do real valor
que o dinheiro realmente tem em suas vidas. O conceito de felicidade sempre esteve atrelado à riqueza ou
ao consumo de bens. No entanto, uma mudança sutil relacionada a um consumo mais consciente e
equilibrado pode ser percebida em alguns perfis tanto da geração Y, conhecidos como millennials, como
também em pessoas que adotaram uma filosofia de “viver mais com menos”, reduzindo assim a sua
“pegada no planeta. Esses comportamentos têm uma relação direta com a ressignificação do conceito de
felicidade.
Os millennials, por exemplo, são reconhecidos por se adaptarem a uma nova lógica de consumo de
sociedade mais interligada, na qual as experiências podem ser compartilhadas com facilidade. São
apoiadores da economia colaborativa e em vez de comprarem um imóvel, preferem pagar aluguel, por
exemplo. Eles pensam muito mais em usufruir do que possuir alguma coisa. Soma-se a esse grupo
também, as pessoas que estão enfrentando uma das maiores crises do Brasil e, que, por força da situação,
tiveram que rever o forma de consumir e reduziram drasticamente o padrão de vida, e aí tiveram que se
reinventar. O que todos têm em comum? Eles buscam uma vida com mais propósito e valorizam muito
mais o bem-estar financeiro do que a riqueza.
Autoconhecimento
Para manter uma relação saudável com o dinheiro é importante buscar se autoconhecer financeiramente.
Para a jornalista Nathália Arcuri, que recentemente lançou o livro Me poupe! 10 passos para nunca mais
faltar dinheiro no seu bolso, e também é fundadora do portal “Me Poupe!”, a educação financeira é o
conhecimento básico necessário para compreender as melhores maneiras de utilizar os dois recursos mais
escassos nos dias de hoje: tempo e dinheiro.
Já para a educadora financeira Luscimeia Reis, o bem-estar financeiro está ligado ao estilo de vida e à
identidade financeira de cada um. “Quando as prioridades são claras fica mais fácil visualizar o que de fato
precisamos para viver bem”, garante. Quando as novas gerações buscam mais qualidade de vida, elas
querem uma identidade financeira que atenda a um conceito de felicidade cada vez mais pessoal. A boa
notícia é que uma relação saudável com o dinheiro pode ser alcançada com planejamento, mudança de
hábitos e autoconhecimento.
A educadora explica ainda que uma pessoa que possui a receita de cinco mil reais por mês, por exemplo,
automaticamente deve se enquadrar no estilo de vida ou na identidade financeira dessa quantia, de forma
que haja uma sobra e que seja possível criar segurança e independência para realizar sonhos. O segredo é
separar o dinheiro de acordo com cada necessidade, com cada sonho. Para alguns a felicidade pode estar
em comprar uma casa maior ou um carro mais novo, expectativas que estão relacionadas ao desejo real de
vida, o que pode levar à felicidade. Por isso, ela diz “que não vale a pena se comparar com outras pessoas,
pois as metas e as jornadas financeiras são diferentes”, afirma.
Educação para mudança de hábito
É comum aos brasileiros terem dificuldade em manter o controle financeiro na família e gerir o fluxo de
caixa, no caso dos empreendedores. Falta uma cultura para a educação financeira, que deveria começar
em casa e se estender às escolas. Soma-se a isso a uma sociedade de consumo, suscetível aos apelos
publicitários.
Luscimeia ressalta que para criar hábitos saudáveis e atingir o bem-estar financeiro é preciso definir metas
objetivas, determinar prazos e o que fazer para alcançá-los, gerindo recursos e se programando melhor. É
preciso conhecer bem todos os gastos, anotando cada despesa por 30 dias, se você tem renda fixa, ou por
90 dias, se você tem renda variável. Saber para onde vai o dinheiro, favorece os investimentos no futuro e
uma aposentadoria tranquila. O bem-estar financeiro também está ligado ao uso do dinheiro para
empreender em uma causa ou uma missão de vida, usando conhecimentos e qualificação adquiridos em
benefício do próximo, em um negócio social, que seja autossustentável.
“Quanto mais cedo as crianças aprenderem sobre finanças melhor. No momento da alfabetização, é bom
introduzir, aos poucos, ensinamentos importantes, como o valor do dinheiro e do planejamento para
realizar os sonhos de consumo. Por volta dos seis anos de idade, já é possível dar uma semanada, que é um
valor semanal dentro das possibilidades da família. Depois dos 10 anos, a semanada pode virar mesada. A
ideia é a mesma, mas o dinheiro é dado mensalmente. Caso a criança gaste todo o dinheiro e depois peça
para que os pais comprem alguma coisa, é importante saber dizer ‘não’”, ensina Nathália Arcuri.
Outro fator determinante na educação dos filhos é o exemplo. Ver que os pais têm comportamentos
saudáveis com o dinheiro é um deles. “Se eles presenciam os pais gastando muito em shoppings, brigando
por causa de contas e boletos, a memória financeira dessa criança será muito ruim. O dinheiro terá como
significado brigas e problemas. O ideal e saudável é mostrar que a família planeja os sonhos, as viagens,
pede descontos, mostrando o quanto custa cada despesa. Com essa estratégia, a criança vai crescer feliz,
valorizando as finanças, pois o dinheiro não aceita desaforo”, explica Luscimeia Reis.
Como reflexão para esses novos tempos, vale um pensamento de José Mujica, ex-presidente do Uruguai.
“Inventamos uma montanha de consumo supérfluo. Mas o que se gasta de verdade é o tempo de vida.
Porque quando compramos algo não pagamos apenas com dinheiro, pagamos com tempo de vida que
tivemos que gastar pra ter aquele dinheiro. Mas tem uma coisa muito importante, a única coisa que não se
pode comprar é a vida”, diz.